Paracetamol na gravidez: o que a ciência e as autoridades realmente dizem

Última actualización: novembro 22, 2025
  • Paracetamol permanece de primeira linha na gravidez quando usado com prudência.
  • Estudos robustos com controle entre irmãos não mostram causalidade com TEA/TDAH.
  • Tratar febre e dor evita riscos reais para mãe e feto; AINEs são desaconselhados.
  • Reguladores e sociedades mantêm recomendações com dose mínima e tempo curto.

Paracetamol na gravidez

Paracetamol na gravidez é um tema que volta e meia gera dúvidas, sobretudo quando surgem manchetes sobre possíveis riscos para o neurodesenvolvimento. Entre posições oficiais, estudos gigantescos e análises críticas, há um fio condutor: o equilíbrio entre tratar dor e febre de forma segura e evitar alarmismos sem base sólida.

Neste guia completo e direto ao ponto, reunimos o que dizem autoridades regulatórias, sociedades científicas e pesquisas recentes — incluindo análises com milhões de crianças — para ajudar a entender onde está o consenso, o que ainda é incerto e como usar o medicamento com prudência durante a gestação.

O que se sabe hoje, sem rodeios

Autoridades de saúde do Reino Unido reafirmaram que tomar paracetamol na gravidez continua a ser seguro quando usado conforme orientação. Em comunicado de 26 de setembro de 2025, o Department of Health and Social Care (DHSC) destacou que o paracetamol segue como analgésico e antipirético de primeira escolha para gestantes, sobretudo porque dor e febre não tratadas representam risco real ao feto.

  • Não há evidência de que o paracetamol cause autismo em crianças quando utilizado durante a gestação, segundo o DHSC e a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA) do Reino Unido.
  • Um estudo sueco de 2024 com 2,48 milhões de crianças não encontrou aumento de risco de autismo, TDAH ou deficiência intelectual quando o desenho considerou comparações entre irmãos, um método robusto para reduzir confundimento familiar.
  • Controlar dor e febre é essencial: manter sintomas sem tratamento pode prejudicar o feto; o paracetamol continua indicado como primeira linha quando usado corretamente.
  • Evite trocar por anti-inflamatórios (AINEs) como o ibuprofeno, pois esses fármacos são, em geral, não recomendados na gestação, especialmente em fases precoces.

A diretora de segurança da MHRA, dra. Allison Cave, foi categórica ao afirmar que não existe evidência de causalidade entre paracetamol na gravidez e autismo. Ela reforçou que gestantes devem seguir as orientações do NHS e falar com o seu profissional de saúde em caso de dúvidas, enquanto a agência segue monitorando continuamente qualquer nova evidência com avaliação científica independente.

Reguladores e sociedades científicas: onde há consenso?

Na União Europeia, a EMA e as agências nacionais mantêm a recomendação de uso do paracetamol na gravidez quando clinicamente indicado, aplicando o princípio de usar a menor dose eficaz pelo menor tempo possível. Em 2019, o comitê de farmacovigilância (PRAC) revisou a literatura e concluiu que os dados sobre neurodesenvolvimento eram inconclusivos, atualizando a informação do medicamento na UE para refletir exatamente isso.

A agência espanhola AEMPS também informou que não há evidência causal entre o uso de paracetamol na gestação e autismo e endossou a manutenção do uso prudente. Em 22 de setembro de 2025, a FDA (EUA) anunciou que refletirá em bula a possível associação observacional entre paracetamol na gravidez e diagnósticos posteriores de TEA/TDAH na prole, mas frisou que não há relação causal estabelecida e que tratar a febre em contextos específicos pode ser necessário.

Outras autoridades, como a TGA (Austrália) e Health Canada, continuam apoiando o uso adequado na gestação. E as grandes sociedades — ACOG, RCOG, FIGO e SMFM — permanecem alinhadas: paracetamol é o analgésico/antipirético de primeira escolha para grávidas, com uso orientado e prudente.

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O que a ciência recente realmente mostra

O estudo mais influente sobre o tema é a coorte sueca publicada no JAMA em 2024, com 2,48 milhões de crianças nascidas entre 1995 e 2019. O grande diferencial foi o controle entre irmãos, uma estratégia que ajusta por fatores genéticos e ambientais compartilhados. Quando esse controle foi aplicado, não houve aumento de risco para autismo (HR ~0,98; IC 95% 0,94-1,02), TDAH (HR ~0,98; IC 95% 0,95-1,01) ou deficiência intelectual (HR ~1,01; IC 95% 0,96-1,07) associado ao uso de paracetamol na gravidez.

Esse detalhe metodológico importa porque irmãos de crianças com TEA têm risco familiar elevado e compartilham muitos fatores ambientais. Modelos tradicionais sugeriam associações modestas, mas esses sinais desapareceram na comparação entre irmãos, o que indica que muito do que se observou antes pode ser confundimento, não causalidade.

Resultados semelhantes foram reportados em uma grande coorte japonesa (mais de 200 mil crianças), também usando comparações entre irmãos, sem identificar vínculo entre paracetamol na gestação e TEA. Já metanálises anteriores encontraram razões de risco combinadas discretas (por exemplo, ~1,19 para TEA e ~1,34 para TDAH), mas com alta heterogeneidade e limitações de estudos observacionais.

Uma revisão de 2025 usando a metodologia Navigation Guide identificou 46 estudos sobre a associação, com parte deles apontando relação. Contudo, críticas metodológicas pontuaram viés de recordação no autorrelato de uso, caracterização imprecisa de dose/duração, heterogeneidade na avaliação de desfechos e controle insuficiente de confundidores, inclusive genéticos e contextuais. Também foi levantado o tema de conflitos de interesse em alguns autores envolvidos em litígios, algo que naturalmente pede cautela na interpretação.

Política, mídia e o que ficou pelo caminho

Declarações políticas de alto impacto em 2025 nos EUA ligando paracetamol na gravidez ao autismo geraram confusão pública, mas foram rapidamente contestadas por especialistas e entidades médicas. Conforme observaram obstetras e pesquisadores, a melhor evidência disponível, com metodologias robustas, não sustenta vínculo causal entre o uso adequado do medicamento e TEA/TDAH.

Esse ruído não é trivial: desencorajar o uso responsável do paracetamol pode expor gestantes e bebês aos riscos da febre alta. A Organização Mundial da Saúde lista o paracetamol como medicamento essencial, reforçando sua importância em contextos diversos, inclusive onde alternativas são limitadas ou contraindicadas.

O outro lado: hipóteses de risco, endocrinologia e reprodução

Alguns grupos de pesquisa argumentam que o paracetamol pode atuar como disruptor endócrino, interferindo em vias hormonais. Relatos sugerem possíveis efeitos urogenitais e reprodutivos na prole, como distância anogenital reduzida, criptorquidia (testículos não-descidos) e início mais precoce da puberdade em meninas, além de sinais de impacto no neurodesenvolvimento em exposições mais prolongadas ou intensas.

É importante situar: o paracetamol atravessa a placenta e a barreira hematoencefálica, e o encéfalo fetal tem janelas de grande vulnerabilidade. Por isso, a recomendações prudenciais — como usar a menor dose eficaz pelo menor tempo e evitar uso para queixas triviais — aparecem em comunicados de especialistas, sobretudo com ênfase no primeiro trimestre, quando há maior sensibilidade do desenvolvimento embriofetal.

Mesmo assim, as evidências agregadas até aqui não comprovam causalidade para TEA/TDAH com uso adequado, e órgãos regulatórios mantêm o posicionamento de segurança condicional ao uso correto. Na prática, o recado é claro: prudência, avaliação individual e orientação profissional.

Quanto as gestantes realmente usam paracetamol?

O uso é muito comum. Estimativas citadas em estudos epidemiológicos recentes apontam para algo como 65% das grávidas nos EUA e cerca de 50% globalmente. Em um inquérito prospectivo aplicado a 900 puérperas (93% das internadas no período estudado), 67,4% relataram uso durante a gestação, valor ligeiramente acima do observado na literatura.

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A imensa maioria (99%) ficou na faixa terapêutica — abaixo de 4 g/dia — e quase metade (45,7%) usou por menos de três dias. As razões mais comuns foram cefaleia, quadros de resfriado e dor de dente, e a distribuição por trimestres foi relativamente uniforme. 12,5% usaram em dois trimestres e 21,5% durante toda a gravidez, sempre segundo o autorrelato.

Quem prescreveu? Médico de atenção primária em 39% dos casos e ginecologista em 37%. Sobre conhecimento: 26% das gestantes achavam que o paracetamol não teria efeitos no feto. Já 51,9% receberam informações de um profissional, e, entre essas, 74% ouviram que não há riscos para o feto. Os autores chamaram atenção para limitações do estudo (viés de memória, amostra com alto nível educacional), mas defenderam ações de educação em saúde e pesquisas de melhor qualidade.

Riscos de não tratar febre e dor

Febre alta nas primeiras semanas de gestação se associa a riscos como perda gestacional, defeitos do tubo neural, fenda labial e anomalias cardíacas. Mais adiante, pode haver aumento de prematuridade e restrição do crescimento. Em paralelo, dor intensa não controlada impacta o bem-estar materno-fetal, além de potencialmente sinalizar quadros infecciosos que exigem avaliação.

Daí o consenso: o paracetamol continua sendo a opção mais segura para controlar dor e febre na gravidez quando clinicamente indicado. AINEs como ibuprofeno são geralmente desaconselhados, sobretudo no início da gestação, e podem ter contraindicações em fases mais avançadas também. As alternativas farmacológicas são limitadas, motivo adicional para valorizar o medicamento certo, na dose certa, pelo tempo certo.

Como usar com prudência e critério clínico

Use a menor dose eficaz pelo menor tempo possível. Essa frase, repetida por reguladores como AEMPS/EMA e por sociedades como ACOG e SMFM, é o norte prático. Em termos gerais, não ultrapassar 4 g/dia e evitar uso contínuo sem avaliação ajudam a reduzir exposição desnecessária.

Outra dica essencial: não utilize para queixas leves do dia a dia sem necessidade — por exemplo, dor lombar pouquíssimo intensa e autolimitada. Se febre ou dor persistirem, se a dose usual não estiver funcionando ou se você precisar tomar com frequência, procure sua médica(o) ou sua equipe de pré-natal para ajustar condutas.

Sociedades e especialistas: por que mantêm a recomendação?

O ACOG afirma que o acetaminofeno (paracetamol) segue como primeira linha para dor e febre na gestação e que o conjunto de evidências disponíveis não respalda vínculo causal com TEA. O Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG) tem posição semelhante. A FIGO e a Society for Maternal-Fetal Medicine (SMFM) reforçam, ainda, que tratar febre é importante para reduzir riscos materno-fetais.

No campo regulatório, a EMA confirmou em 2025 que não houve mudança na recomendação após reavaliação rigorosa; a MHRA enfatizou que não há evidência de que o paracetamol cause autismo. A FDA iniciou um processo de atualização de rotulagem para mencionar associações observacionais, mas destacou o ponto-chave: não há causalidade estabelecida.

Fatores de confundimento: por que é tão difícil “bater o martelo”?

Estudos retrospectivos sofrem com viés de recordação (quem tem um desfecho tende a lembrar mais do uso de medicamentos), além de confundimento por indicação: mulheres que precisam de analgésico podem ter condições subjacentes (como infecções e febre) que, por si só, influenciam o neurodesenvolvimento. Genética, ambiente domiciliar, idade parental, IMC, tabagismo, álcool, complicações como pré-eclâmpsia, status socioeconômico e práticas de cuidado no período perinatal também entram na equação.

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Por isso, desenhos com controle entre irmãos são tão valiosos — eles reduzem o ruído dos fatores familiares compartilhados. Quando essa abordagem entra em cena, eventuais sinais de risco tendem a desaparecer, o que reforça a leitura mais cautelosa dos achados observacionais.

Notas sobre categorias de segurança e prática clínica

O paracetamol é amplamente utilizado por gestantes no mundo inteiro, muitas vezes sem prescrição, principalmente para cefaleia, dor musculoesquelética leve e estados febris. Em contextos históricos, o medicamento foi classificado favoravelmente em termos de segurança gestacional, mas o sistema de categorias da FDA foi substituído por descrições mais detalhadas. Na essência prática, o foco permanece no uso criterioso, individualizado e informado.

Quem são algumas das vozes técnicas nesse debate?

Pesquisadores e líderes clínicos de organizações como FIGO, EBCOG, ACOG e universidades europeias têm contribuído com análises e notas de posicionamento. Entre os nomes presentes em publicações e comunicados recentes estão especialistas em obstetrícia, medicina perinatal e epidemiologia de países como Alemanha, Irlanda, Suécia, Reino Unido, EUA e Quênia, evidenciando a natureza internacional da discussão.

Avisos de responsabilidade e privacidade das fontes consultadas

Sites voltados a profissionais lembram que seu conteúdo público não substitui a consulta médica. A mensagem é direta: use as informações como apoio, mas decisões individuais exigem avaliação clínica. Muitos portais detalham práticas de privacidade e proteção de dados, explicando que podem coletar IP, provedor, data/hora de acesso e páginas visitadas para administrar o site e analisar tendências, além de eventuais dados pessoais fornecidos pelo usuário para serviços específicos (ex.: newsletters, eventos).

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Quanto a links, páginas externas podem ser incluídas sem que isso implique endosso do conteúdo; entradas de sites de terceiros são, em geral, permitidas, mas alguns portais pedem autorização prévia para origens comerciais. Muitos aderem a códigos de qualidade na web em saúde (como WMC e HONcode). Vale o reforço: ninguém se responsabiliza pelo uso indevido das informações, e a medicina exige personalização caso a caso.

Para leituras técnicas adicionais, você encontrará comunicados de agências como MHRA, EMA, AEMPS e FDA, além de documentos de sociedades como ACOG, SMFM e FIGO e estudos publicados em periódicos revisados por pares (por exemplo, JAMA). Em alguns sites hospitalares, há PDFs informativos para download com sínteses de consumo e percepção de risco em populações locais, úteis para entender a realidade do uso no dia a dia.

Na prática do consultório e da vida real, o que norteia a decisão é simples: o paracetamol segue recomendado como primeira linha para dor e febre na gravidez quando indicado, em dose mínima eficaz e pelo menor tempo; a febre alta e a dor intensa não tratadas fazem mal; e as melhores evidências atuais não sustentam causalidade com TEA/TDAH ao considerar metodologias robustas. Diante de dúvidas, converse com sua equipe de pré-natal — informação de qualidade, prudência e acompanhamento são o trio que mais protege você e o seu bebê.

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