A histologia (grego: histos = moldura; alpendre = ciência) é o ramo da anatomia que descreve e explica a estrutura microscópica dos tecidos de plantas e animais, a partir do nível celular para os níveis de órgãos e sistemas de órgãos.
A anatomia visa compreender sistematicamente os princípios subjacentes à forma externa e à arquitetura interna dos organismos multicelulares. A anatomia espessa, ou anatomia macroscópica, considera características estruturais que podem ser inspecionadas a olho nu.
História
Marcello Malpighi (1628-1694) foi o precursor da histologia. Ele usou o microscópio para estudar plantas e animais.
Marie-François-Xavier Bichat (1771-1802), considerado o pai da histologia moderna, cunhou o termo “tecido”. Apesar de não usar um microscópio, em 1800, dissecando cadáveres e testes químicos, ele identificou 21 tecidos humanos. Em 1819, Carl Mayer (1787-1865) cunhou o termo “histologia”.
Em 1826, Joseph J. Lister (1786-1869) projetou um microscópio óptico revolucionário, corrigindo aberrações cromáticas e esféricas. Graças a isso, durante o resto do século, a histologia moderna pôde se desenvolver. Em 1827, Thomas Hodgkin (1798-1866) e Lister provaram que os glóbulos vermelhos não possuem núcleo.
Em 1847, Rudolf Virchow (1821-1902) postulou que as doenças têm origem em distúrbios celulares. Por essa e outras contribuições, ele é considerado o fundador da histopatologia.
No início do século XX, a histologia havia amadurecido. Isso também foi ativado por:
– O desenvolvimento de agentes químicos para fixar tecidos e o micrótomo para seccioná-los ao longo do século XIX.
– Incorporação e preservação de tecidos em blocos de bálsamo do Canadá em 1832 e parafina em 1869.
– Fotomicrografia em 1844.
Que estuda?
O desenvolvimento da histologia comparativa foi possível graças a estudos descritivos de tecidos de animais e plantas. A histologia comparativa inclui histopatologia, citopatologia, histoquímica, histologia funcional e fitopatologia. Também se aplica ao estudo da evolução e sistemática dos seres vivos, como na paleohistologia.
A histopatologia estuda e diagnostica doenças humanas e animais. Para isso, utiliza amostras de tecido (biópsias) que são fixadas, seccionadas e examinadas por um profissional conhecido como patologista.
A citopatologia também estuda e diagnostica doenças humanas e animais. A diferença é que o faz no nível de fragmentos microscópicos de tecidos e células livres.
A histoquímica combina técnicas bioquímicas e histológicas para analisar a química dos tecidos. Baseia-se no uso de marcadores cromogênicos que servem para revelar processos celulares positivos para certas substâncias.
A histologia funcional investiga os aspectos dinâmicos da organização dos tecidos. Um de seus impulsionadores mais notáveis foi Santiago Ramón y Cajal (1852–1934), cuja pesquisa sobre neurônios lançou as bases das neurociências do século XX.
A Fitopatologia estuda doenças de plantas causadas por vírus, bactérias, protozoários, plantas parasitárias, fungos e nematóides.
Histologia humana
Tecido epitelial
Os tipos básicos de tecidos humanos e animais são: epitelial, muscular, nervoso e conjuntivo.
O tecido epitelial é formado por camadas de células que revestem (epitélio) a superfície do corpo, envolvem (endotélio) as cavidades do corpo ou formam glândulas e seus ductos.
O tecido epitelial é classificado como simples (camada única de células), estratificado (várias camadas de células), pseudoestratificado (uma camada de células conectada a uma membrana basal), escamoso (células achatadas), cubóide (células de superfície arredondada) e colunar (células mais altas que largas).
As vias aéreas são estofadas por epitélio colunar pseudoestratificado. A superfície do corpo é coberta por epitélio escamoso estratificado, rico em queratina. Cavidades úmidas, como boca, vagina e reto, são estofadas por epitélio escamoso estratificado, sem queratina.
As glândulas são formadas por epitélio secretório. Eles sintetizam, armazenam e liberam vários tipos de substâncias, incluindo: proteínas (pâncreas), lipídios (glândulas supra-renais e sebáceas), complexos de carboidratos e proteínas (glândulas salivares) e todas as substâncias acima (glândulas mamárias).
Tecido muscular
O tecido muscular é constituído por células ou fibras alongadas, com propriedades contráteis. Com base em sua estrutura e função, são reconhecidos três tipos de músculos: esquelético, cardíaco e liso.
O músculo esquelético contém feixes de células muito alongadas, estriadas e multinucleadas. Cada fibra muscular é composta de unidades menores chamadas miofibrilas.
Estes, por sua vez, consistem em filamentos de compostos de actina e miosina que formam um padrão alternado regular. Está ligado aos ossos. Sua contração é rápida, vigorosa e voluntária.
O músculo cardíaco também é composto de células alongadas e estriadas. Suas fibras são semelhantes às do músculo esquelético. No entanto, eles são desinucleados e mostram ramificações anexadas às de outras células, sendo chamadas de discos intercalares. Está localizado no coração, aorta e tronco pulmonar. Sua contração é vigorosa, rítmica e involuntária.
O músculo liso é composto por células fusiformes de comprimento médio e desinucleadas. Não é estriada porque a actina e a miosina não formam um padrão alternativo regular.
É organizado em camadas nos órgãos viscerais ocos e nos vasos sanguíneos. Também está associado aos folículos capilares. Sua contração é prolongada, lenta e involuntária.
Tecido nervoso
O tecido nervoso é constituído por uma rede de muitos bilhões de células nervosas (neurônios), todas elas assistidas por células de suporte, nutrição e defesa (células da glia). Cada neurônio tem centenas de longas interconexões com outros neurônios.
O tecido nervoso é distribuído por todo o corpo, formando um sistema que controla os padrões de comportamento, bem como as funções do corpo (por exemplo, pressão arterial, respiração, níveis hormonais).
Anatomicamente, está dividido em:
– SNC, sistema nervoso central, que consiste em uma grande agregação de neurônios (cérebro, medula espinhal).
– SNP, sistema nervoso periférico , constituído por nervos (craniano, espinhal, periférico) e pequenas agregações de neurônios (gânglios). O SNP conduz impulsos nervosos sensoriais e motores de e para o SNC.
Tecido conjuntivo
O tecido conjuntivo é formado por células associadas à matriz extracelular. É usado para unir ou apoiar outros tecidos. Inclui osso, cartilagem, tendões, tecido fibroso, tecido adiposo e medula óssea, todos com matriz extracelular sólida. Também inclui sangue, com matriz extracelular líquida (plasma).
Histologia de plantas
Tecido fundamental
Os tipos básicos de tecidos vegetais são:
– Fundamental (ou básico), subdividido em parênquima, colênquima e esclerênquima.
– Vascular, subdividido em xilema e floema.
- Dérmica, subdividida em epiderme e periderme.
O parênquima é formado por células, vivas na maturidade, de forma irregular e com uma fina parede primária, reservas de açúcar e amido, que podem participar da fotossíntese e reter a capacidade de se diferenciar em outros tipos de células. Compõe a maior parte da biomassa das plantas, incluindo o interior do caule, folhas e frutos.
O colénquima é formado por células, vivas na maturidade, parede primária de forma irregular e espessa, rica em pectina. Fornece suporte estrutural sem perder a elasticidade necessária para o alongamento das plantas. Está localizado sob a epiderme das hastes e nos pecíolos.
O esclerênquima é formado por células, com paredes secundárias, internas em relação à primária, espessas e ricas em lignina. Essas paredes secundárias, que duram após a morte da célula, fornecem força às partes da planta que precisam dela e não são mais alongadas. O esclerênquima consiste em fibras e esclereides.
Tecido vascular
O tecido vascular é característico das plantas vasculares, como pteridófitas (por exemplo, samambaias), gimnospermas (por exemplo, pinheiros e abetos) e angiospermas (plantas com flores).
O xilema distribui a água com solutos minerais retirados do solo. A condução deste líquido é realizada por traqueídeos (todas as plantas vasculares) e vasos condutores (principalmente angiospermas). Os traqueides e os elementos que compõem os vasos condutores são células mortas.
O floema distribui a seiva, composta por água, açúcares produzidos pela fotossíntese e nutrientes previamente armazenados em outras células.
A condução deste líquido é realizada por células peneiras (pteridófitas, gimnospermas) ou por triagem de elementos de tubos (angiospermas). As células de triagem e os elementos do tubo de triagem são células vivas.
Tecido dérmico
O tecido dérmico envolve todo o corpo das plantas. Acima do solo, o tecido dérmico protege a planta da perda de água. No subsolo, permite beber água e sais minerais. A epiderme é o único tecido dérmico das plantas, a menos que haja espessamento lateral. Nesse caso, a epiderme é substituída pela periderme.
Métodos de estudo
Em geral, um estudo histológico requer:
1- Obter a amostra
2- Fixação
3- Coloração
4- Incorporação
5- Seccionamento
6- Observação microscópica.
A obtenção da amostra consiste na aquisição de uma parte do corpo humano ou animal (biópsia) ou planta, de tamanho suficiente (geralmente muito pequeno) e representativo do tecido de interesse.
A fixação inclui procedimentos físicos (por exemplo, congelamento rápido) e químicos (por exemplo, formalina) que estabilizam a amostra para que ela permaneça inalterada durante e após as etapas a seguir.
As células são incolores, portanto devem ser manchadas, permitindo que as estruturas de interesse sejam destacadas. A coloração é realizada por reagentes cromogênicos (por exemplo, hematoxilina, eosina, Giemsa), histoquímicos ou imuno-histoquímicos.
A incrustação consiste em infiltrar o tecido com um líquido transparente ou translúcido (por exemplo, parafina, resina acrílica) que posteriormente endurece por resfriamento ou polimerização, formando um bloco sólido.
O corte consiste em fatiar, usando um micrótomo, o bloco sólido anterior. As seções obtidas, tipicamente com 5 a 8 μm de espessura, são chamadas de seções histológicas.
A observação microscópica é realizada por microscópios ópticos, eletrônicos, confocais, polarizadores ou de força atômica, entre outros. Nesta etapa, são geradas imagens digitais dos cortes.
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