- Somar/subtrair apenas radicais semelhantes; simplifique antes para identificar semelhanças.
- Coeficientes fracionários exigem MMC; o radical se mantém inalterado.
- Racionalize denominadores irracionais para limpar contas e comparar resultados.
- Use propriedades da radiciação (potência, raiz da raiz, produtos/quotientes) para reduzir.
Somar e subtrair expressões radicais com frações assusta muita gente, mas, com um roteiro claro e algumas propriedades essenciais da radiciação, tudo flui bem. Neste guia, você vai ver quando é possível juntar radicais, como lidar com coeficientes fracionários e o que fazer quando os radicais não são semelhantes.
Além das regras de soma e subtração, vamos revisar o que é radiciação, sua notação, as partes da raiz, as propriedades que permitem simplificar e manipular radicais, e ainda como racionalizar denominadores. Para fixar, incluímos vários exemplos numéricos e algébricos, com casos típicos que caem em provas (inclusive de estilo Enem), sempre com explicações diretas.
O que é radiciação e como reconhecer uma raiz
A radiciação é a operação inversa da potenciação: procuramos um número que, multiplicado por ele mesmo uma certa quantidade de vezes, devolve um valor conhecido. Por exemplo, 5 × 5 × 5 = 125, o que significa que 5 é a raiz cúbica de 125 (∛125 = 5).
Na escrita, usamos o símbolo de raiz. Exemplos de leitura: √400 (raiz quadrada de 400), ∛27 (raiz cúbica de 27) e √{32} (raiz quinta de 32). Esses exemplos ajudam a mapear o padrão “índice – radicando – raiz”.
Partes de um radical e notação
Em √{x}, o índice n indica quantas vezes “o número procurado” foi multiplicado por si; o radicando é x, o valor dentro do radical; e o resultado é a raiz enésima de x. Quando n = 2, temos a raiz quadrada, e o índice costuma nem ser escrito.
Também é comum falar no “expoente do radicando” quando escrevemos x como potência para facilitar a simplificação. Essa leitura ajuda a converter raiz em potência fracionária, o que é utilíssimo nas propriedades a seguir.
Propriedades essenciais da radiciação
1) Todo radical pode ser escrito como potência. Em termos simples, √{x} = x1/n. Essa visão acelera simplificações e comparações de índices, pois transformamos o problema em manipulação de expoentes.
2) Se multiplicarmos ou dividirmos índice e expoente pelo mesmo número, a raiz não muda. Em linguagem de potência, xa/b = x(ka)/(kb). Essa técnica é útil para “alinhar” índices e destravar uma simplificação que parecia travada.
3) Para radicais com o mesmo índice, podemos multiplicar ou dividir os radicandos mantendo o índice: √{a} · √{b} = √{ab} e √{a}/√{b} = √{a/b}, desde que b ≠ 0. Isso permite combinar radicais em uma única raiz quando os índices coincidem.
4) Potência de uma raiz: (√{a})m = √{am}. Em particular, quando m = n, (√{a})n = a (para a ≥ 0), ou seja, índice e potência iguais “cancelam” o radical e liberam o radicando.
5) Raiz da raiz: √{√{a}} = √{a}. Ao manter o mesmo radicando e multiplicar os índices, conseguimos condensar camadas de radicais em uma única raiz equivalente.
Radiciação e potenciação: relação direta
Como a radiciação é inversa da potenciação, se an = x, então √{x} = a. Exemplos bem clássicos: √81 = 9 porque 92 = 81; √{10 000} = 10 porque 104 = 10 000; ∛(−8) = −2 pois (−2)3 = −8.
Essa equivalência permite “ir e vir” entre as formas de raiz e potência, algo decisivo em simplificações, reduções ao mesmo índice e em transformações de produtos/quotientes de radicais.
Simplificação de radicais na prática
Nem toda raiz tem resultado inteiro imediato; por isso, simplificar o radical é parte da rotina. O passo a passo típico é: 1) fatorar o radicando em primos; 2) reescrever o resultado em forma de potência; 3) usar propriedades para reduzir índice e expoente quando possível.
Um exemplo clássico é √{243}. Como 243 = 35, concluímos que √{243} = 3. Quando índice e expoente coincidem, o radical “desaparece” e sobra apenas a base.
Se não houver divisor comum entre índice e expoente, não dá para zerar o radical; ainda assim, é viável simplificar parte do radicando para deixar a expressão mais limpa, como em √12 = √(4 · 3) = 2√3.
Racionalização de denominadores
Racionalizar significa transformar uma fração com denominador irracional em outra equivalente de denominador racional. Três situações aparecem sempre: raiz quadrada isolada, raiz com índice maior que 2 e soma/diferença de radicais no denominador.
1) Denominador com raiz quadrada: em 1/√5, multiplicamos numerador e denominador por √5, obtendo √5/5. O produto √5 · √5 = 5 elimina a raiz de baixo.
2) Denominador com índice n > 2: se temos 1/√{9} = 1/√{32}, multiplicamos por √{33}, pois 2 + 3 = 5, assim 32·33 = 35 vira 3 fora da raiz. Regra geral: escolha o fator racionalizante que completa o expoente do radicando até o índice.
3) Soma ou diferença no denominador: em 1/(a + b) com radicais, usamos o conjugado (a − b) para obter (a + b)(a − b) = a2 − b2. Isso elimina as raízes cruzadas e torna o denominador racional.
Quando é possível somar e subtrair radicais
As somas e subtrações funcionam como as de termos semelhantes em polinômios: só podemos somar/subtrair radicais semelhantes, isto é, com o mesmo índice e o mesmo radicando. Nesse caso, basta operar os coeficientes e manter o radical.
Radicais semelhantes: 3√2 + 2√2 = (3 + 2)√2 = 5√2. O mesmo vale para subtração: 7∛5 − 4∛5 = 3∛5. O radical fica intacto, apenas somamos ou subtraímos os coeficientes.
Radicais que ficam semelhantes após simplificar: 2√12 + 3√27 = 2·2√3 + 3·3√3 = 4√3 + 9√3 = 13√3. Primeiro simplificamos, depois somamos os coeficientes de radicais iguais.
Radicais não semelhantes: se não há como ficarem com o mesmo índice e radicando, não dá para somar diretamente; ou mantemos a expressão indicada, ou usamos aproximações decimais quando o enunciado pedir valor numérico aproximado (por exemplo, √5 ≈ 2,236 e √2 ≈ 1,414).
Como somar e subtrair radicais com frações
Quando os coeficientes são frações, a regra segue a mesma lógica: os radicais precisam ser semelhantes e operamos apenas os coeficientes. A diferença é que, agora, somar e subtrair os coeficientes exige frações com denominadores iguais.
Exemplo básico: (3/2)√5 − (1/4)√5 = √5 = √5 = (5/4)√5. Repare que o radical não muda; a atenção fica toda na soma/subtração de frações.
Se os radicais não forem semelhantes, não dá para juntar diretamente. Em 2√3 − (1/3)√2, os radicandos são distintos; a expressão já está “na forma mais simples” no campo exato. Se o problema pedir número decimal, poderemos aproximar √3 e √2 e, aí sim, subtrair os valores.
Outra situação comum surge quando temos frações com radical no denominador, como 1/(2√3) + 1/(3√3). Racionalizamos cada termo: 1/(2√3) = √3/6 e 1/(3√3) = √3/9. Agora os termos são semelhantes (ambos em √3) e a soma vira (√3/6 + √3/9) = √3(1/6 + 1/9) = √3(5/18) = (5√3)/18.
Exemplos numéricos focados em frações
a) (5/3)∛7 + (1/6)∛7 = ∛7 = (11/6)∛7. Somamos as frações e preservamos o radical ∛7.
b) (7/4)√12 − (1/2)√27. Primeiro, simplifique: √12 = 2√3 e √27 = 3√3. Fica (7/4)·2√3 − (1/2)·3√3 = (7/2)√3 − (3/2)√3 = 2√3. Radicais tornam-se semelhantes depois da simplificação.
c) (3/5)√2 + (1/10)√8. Simplificando √8 = 2√2, temos (3/5)√2 + (1/10)·2√2 = (3/5)√2 + (1/5)√2 = (4/5)√2. O trabalho está nos coeficientes fracionários.
Expressões algébricas com radicais
Em expressões algébricas, o raciocínio de “termos semelhantes” também vale: só somamos/subtraímos monômios com mesma parte literal e mesmo radical. Por exemplo, 2x√3 − (1/2)x√3 = (3/2)x√3, enquanto 3x√2 − x√3 “não se juntam”.
Em polinômios com letras e radicais, simplifique o radical primeiro (quando possível) e, só então, agrupue termos com a mesma parte literal e o mesmo radical. Isso evita erros de soma incorreta por confundir radicandos diferentes.
Multiplicação e divisão de radicais
Mesmo índice: multiplica-se ou divide-se os radicandos e mantém-se o índice. Ex.: √3 · √12 = √36 = 6; já √{8}/√{2} = √{4} = √{22} = 21/2 = √2. A operação acontece “dentro” do radical.
Índices diferentes: reduza ao mesmo índice usando a ideia de potência fracionária ou o mínimo múltiplo comum dos índices. Ex.: √2 · ∛2 = √{23} · √{22} = √{25} = √{32}. Unificar o índice “abre espaço” para a propriedade 3.
Exercícios resolvidos e aplicações
1) Cálculo direto de raízes — a) √81 = 9; b) √{10 000} = 10; c) ∛(−8) = −2. Esses resultados usam a relação com potenciação. Reconhecer potências conhecidas agiliza a conta.
2) Simplificação passo a passo — a) √12 = √(4·3) = 2√3; b) √50 = √(25·2) = 5√2; c) √{243} = √{35} = 3. Fatorar o radicando é a chave.
3) Soma e subtração com frações (semelhantes) — a) (3/2)√5 − (1/4)√5 = (5/4)√5; b) (5/6)∛2 + (1/3)∛2 = (7/6)∛2. LCD (mínimo múltiplo comum) organiza os coeficientes.
4) Soma e subtração após simplificar — a) 2√12 + 3√27 = 13√3; b) (1/2)√18 − (3/4)√8 = (1/2)·3√2 − (3/4)·2√2 = (3/2 − 3/2)√2 = 0. Ao reduzir primeiro, fica visível o cancelamento.
5) Racionalização — a) 1/√5 = √5/5; b) 1/√{9} = √{33}/3; c) 1/(√3 + √2) = (√3 − √2)/(3 − 2) = √3 − √2. Usar o conjugado elimina a raiz do denominador.
6) Multiplicação e divisão — a) √2 · √8 = √16 = 4; b) ∛16/∛2 = ∛8 = 2; c) √2 · ∛2 = √{25}. Reduzir índices diferentes é uma técnica obrigatória.
Aplicação: IMC e RIP (Enem/2010, ideia de cálculo)
Se uma pessoa tem massa 64 kg e IMC = 25 kg/m2, então h2 = 64/25 e h = 8/5 = 1,6 m (160 cm). O RIP (Recíproco do Índice Ponderal) usado no modelo alométrico pode ser escrito, em termos práticos, como RIP = altura (em cm) / ∛(massa em kg). Logo, RIP = 160/∛64 = 160/4 = 40 cm/kg1/3. Alternativa correta: 40 cm/kg1/3.
Aplicação: relação entre área e massa (Enem/2013, adaptado)
Se “o cubo da área S é proporcional ao quadrado da massa M”, então S3 = k·M2 (k > 0). Daí, S = (k·M2)1/3 = k1/3·M2/3. Essa forma evidencia o uso da radiciação via expoentes fracionários.
Mais treino rápido
Raiz quadrada exata — √5184 = 72, pois 5184 = 26·34 e a fatoração mostra pares completos para sair da raiz. Ver o padrão de potências acelera o cálculo.
Expressão mista — √4 + √16 − √25 · √9 = 2 + 4 − 5·3 = 6 − 15 = −9. Respeite a ordem: primeiro radicais, depois multiplicações, por fim somas/subtrações.
Comparações e estimativas — 382 = 1444; como 1500 é maior que 1444, √1500 > 38. Já 132 = 169, então √190 > 13. Dominar quadrados perfeitos ajuda demais nas estimativas.
Dicas práticas para evitar erros comuns
1) Nunca some radicais com radicandos ou índices diferentes achando que pode “somar por dentro”. √5 + √2 não é √7. Apenas radicais semelhantes permitem combinar coeficientes.
2) Simplifique antes de operar: frequentemente, radicais distintos viram semelhantes após simplificação (ex.: √12 e √27 reduzem para múltiplos de √3). Isso abre a porta para a soma/subtração correta.
3) Em frações, organize primeiro os coeficientes: use o mínimo múltiplo comum para somar ou subtrair coeficientes fracionários; depois, mantenha o radical repetido.
4) Racionalize quando houver irracional no denominador: deixa a expressão mais limpa e evita problemas em etapas seguintes (especialmente ao compararmos resultados).
Modelos de exercício para somar e subtrair radicais com frações
Modelo A (semelhantes diretos): (2/3)√7 + (5/6)√7. MMC(3,6) = 6, então (4/6 + 5/6)√7 = (9/6)√7 = (3/2)√7. Operação só nos coeficientes.
Modelo B (semelhantes após simplificar): (3/4)√18 − (1/8)√8 = (3/4)·3√2 − (1/8)·2√2 = (9/4 − 1/4)√2 = 2√2. A simplificação cria semelhança entre radicais.
Modelo C (não semelhantes): (1/2)√5 − (3/4)√3. Mantemos a forma exata ou aproximamos: (0,5·2,236) − (0,75·1,732) ≈ 1,118 − 1,299 = −0,181. A aproximação só é usada quando pedida.
Checklist rápido antes de somar/subtrair
• Os radicais são realmente semelhantes (mesmo índice, mesmo radicando)? Se não, tente simplificar; se ainda assim não ficarem iguais, não some diretamente.
• Há coeficientes fracionários? Reduza-os ao mesmo denominador (veja frações equivalentes) e só então some/subtraia; mantenha o radical repetido.
• Existe irracional no denominador? Racionalize antes de combinar termos; isso pode destravar a semelhança entre radicais.
• Preciso de valor exato ou aproximado? Se for aproximado, aplique arredondamentos coerentes e documente a precisão pedida.
Com as propriedades certas da radiciação, a regra de radicais semelhantes e boas práticas com frações, somar e subtrair expressões radicais (inclusive com coeficientes fracionários) vira um processo mecânico e confiável; a diferenciação está em reconhecer quando simplificar, quando racionalizar e quando manter a forma exata.