A Fenomenologia é uma resolução filosófica proposta de todos os problemas filosóficos da experiência intuitiva, também chamada aparente. Isso significa que examina os seres e ações que se manifestam no mundo; Portanto, seu assunto é tudo o que é perceptível e tem essência.
Pode-se dizer que um dos fundamentos dessa corrente filosófica é a convicção de que, na consciência de nosso viver, podemos alcançar a descoberta das verdades necessárias. Essas verdades, sintetizadas na essência e no sentido ideal e atemporal das coisas, podem ser descobertas graças à intencionalidade.
Dessa maneira, a fenomenologia é decidida pela viabilidade e inteligibilidade do conhecimento supra-sensível. Acredita que esse conhecimento serve tanto para guiar a vida quanto para entender o mundo, e usa a vida da consciência para alcançar essa inteligibilidade ideal.
Seu iniciador foi Edmund Gustav Albrecht Husserl (1859-1938), filósofo e matemático da Morávia, discípulo de Franz Brentano. É precisamente a partir da psicologia descritiva ou fenomenológica proposta por Brentano, que Husserl começou a modelar seu conceito de fenomenologia.
Anos depois, Husserl postulou a fenomenologia transcendental. Com essa denominação e refletindo sobre a experiência intencional, ele pretende explicar a origem e o significado do mundo.
Suas idéias se expandiram e mudaram ao longo do tempo, com quem eram seus discípulos e seguidores. No entanto, o termo fenomenologia não pode ser associado a um movimento coletivo; na realidade, são filósofos que, baseados em Husserl, expõem sua própria teoria.
Origem e História
Embora o fundador da fenomenologia seja Edmund Husserl, seus conceitos são baseados nos de seu professor, o filósofo alemão Franz Brentano (1838-1927).
Brentano culpou a psicologia da redução da consciência, da alma e de suas ações em termos de material, genética e orgânica, entre outros aspectos. A partir daí, ele desenvolveu o que era conhecido como psicologia fenomenológica ou descritiva.
Essa psicologia é baseada em experiências e verificações empíricas que permitem revelar as leis necessárias. Também identifica seu objeto nas experiências, cuja particularidade é o fato de terem conteúdos objetivos.
Início da fenomenologia husserliana
Em Investigações lógicas , publicado em 1900 e 1901, Husserl levantou seu conceito de fenomenologia. Além de criticar a psicologia, aqui ele expandiu o conceito de experiência intencional já desenvolvida por Brentano.
Husserl descreve a intencionalidade como uma propriedade das experiências quando elas são referidas aos objetos de uma maneira necessária; portanto, esses objetos relacionados às experiências são chamados intencionais e que a vida da consciência também é considerada intencional.
Por esse motivo, a fenomenologia é entendida como a ciência realizada pelo estudo das estruturas das experiências, bem como dos objetos intencionais e das relações entre elas.
A fenomenologia propõe uma metodologia para seu procedimento. Esse método fenomenológico possui vários elementos, dentre os quais se destaca a variação eidética, que permite a comparação entre diferentes objetos intencionais para encontrar o essencial que lhe é comum e, assim, estudar essa essência como mera possibilidade.
Fenomenologia Transcendental
Essa teoria da fenomenologia começou a tomar forma a partir do conceito de redução transcendental. Com a denominação de epojé transcendental, Husserl fez a proposta de acesso à pura consciência ou subjetividade transcendental por meio do que chamou de reduções.
Embora as reduções já tenham sido levantadas nas Investigações Lógicas – como é o caso da redução eidética -, no trabalho Ideias relacionadas a uma fenomenologia pura e uma filosofia fenomenológica, aparece o conceito de redução transcendental.
Com a redução transcendental, Husserl propõe uma maneira de se desconectar da crença de que o mundo é real, para que quem fizer essa redução perceba que o mundo é assim enquanto ele o viver. Portanto, apenas por desconsiderar o mundo como real, pode-se atender ao mundo à medida que cada um vive pessoalmente.
Por outro lado, refere-se à atitude que a pessoa, sabendo ou não, sustenta dentro da redução transcendental.
A partir desses conceitos, Husserl indica que o mundo é o que a experiência da pessoa se refere e, simultaneamente, é o contexto em que se vive.
O que estuda a fenomenologia?
Em um sentido geral, a fenomenologia tenta elucidar o sentido que o mundo tem para o homem em sua vida cotidiana.
Em uma estrutura específica, ela se aplica a qualquer situação ou experiência pessoal que permita descrever o subjacente. Em outras palavras, permite a construção do significado que a pessoa dá a uma experiência.
Diante disso, tomar o homem, as coisas e o mundo como fenômenos os torna objetos de conhecimento. Isso implica que tudo pode ser investigado, o que permite uma abordagem mais próxima da verdade.
Da mesma forma, a possibilidade de investigar, duvidar, repensar e especular está imersa na mesma concepção do fenômeno, e é para isso que a fenomenologia aponta, concluindo com toda a verdade definitiva. Devido a essa peculiaridade, o método fenomenológico pode ser utilizado em todas as disciplinas do conhecimento.
Método fenomenológico
Esse método permite ao pesquisador abordar um fenômeno como acontece em uma pessoa, para que a consciência de alguém seja acessada para apreender o que essa consciência pode manifestar com referência a um fenômeno que a pessoa viveu.
Um exemplo de como essa metodologia é aplicada pode ser visto na entrevista fenomenológica.
Esta entrevista é uma reunião entre um entrevistado e um entrevistador através do diálogo, que permite apreender um fenômeno através da linguagem. Nisso, qualquer julgamento de valor, classificação, preconceito, categorização ou preconceito é deixado de fora.
O entrevistador é quem escuta, capta e convive com o fenômeno, que vem do discurso do entrevistado. Esse discurso é recuperado pela mesma pessoa, referindo-se a uma experiência vivida no presente ou no passado e que permaneceu em sua consciência por ter sido significativa.
É assim que o pesquisador fenomenológico recupera os discursos, o discurso, mas não para dar sentido à experiência; Pelo contrário, é a experiência que já se entende pelo entrevistado. O pesquisador apenas faz uma observação que eleva a pessoa do espaço.
Caracteristicas
A fenomenologia é caracterizada por:
Ser uma ciência dos objetos ideais a priori e universal, porque é uma ciência das experiências.
-Com base nas causas e primeiros princípios, deixando de lado qualquer explicação dos objetos.
Usar a intuição intelectual como procedimento.
-Descrever de maneira neutra os objetos presentes, sem associar-se a crenças, preconceitos ou idéias preconcebidas, com referência à sua existência real; portanto, sua existência não é negada ou afirmada.
– Conceber a redução ou o apoio como fundamentais no método fenomenológico, pois, com isso, tudo o que é factual, acidental e fortuito é excluído ou deixado entre parênteses, para ser orientado apenas no necessário ou essencial do objeto.
-Veja a consciência como uma atividade cuja propriedade fundamental é a intencionalidade.
Principais representantes e suas idéias
Edmund Gustav Albrecht Husserl (1859-1938)
Fundador da fenomenologia. Além dos conceitos já explicados acima, existem outros fundamentos em seu pensamento:
Intencionalidade
Para Husserl, os objetos aparecem intencionalmente na consciência, e a maneira como esses objetos aparecem faz parte do seu ser. Assim, ele sustenta que as coisas aparecem como são e são como são.
É precisamente através da intencionalidade que se supera o modelo de crença na divisão da realidade no exterior e da consciência como interior. A proposta é voltar ao plano anterior que é o real, no qual não há diferença entre objeto e sujeito.
A forma mais comum de intencionalidade é cognitiva ou teórica, que une percepção com julgamento, e é através de atos linguísticos significativos que Husserl inicia a análise teórica.
Temporalidade
A temporalidade é uma propriedade da consciência da pessoa. No entanto, essa consciência do tempo, como em todos os fenômenos, tem estratos diferentes. O primeiro é o tempo do mundo, localizado nas coisas e eventos que ocorrem.
O segundo é o tempo interno, que é subjetivo, no qual ocorrem os eventos da vida consciente. Esse tempo não pode ser quantificado da mesma forma para todos, em oposição ao primeiro, que pode ser medido quantitativamente.
O terceiro é derivado de estar ciente do tempo interno. É uma consciência de si mesma como temporária, uma autoconsciência que flui e não precisa de mais nada.
Essa consciência do tempo interno é o que possibilita a consciência da identidade contínua das pessoas como agentes e da identidade das coisas como objetos no mundo.
Eu fenomenológico
Quando se olha para si mesmo, duas realidades são percebidas: a primeira é o eu como algo que pertence ao mundo e nele está, é o que Husserl chama de ego empírico; o segundo, o eu que entende, que recebe o nome de transcendental, porque apenas transcende os objetos do mundo, conhecendo-os.
Esse eu transcendental realiza operações racionais ou espirituais e se encarrega do humano, como perceber valores, amar, decidir moralmente, etc.
Por sua vez, é percebida quando ocorre a redução transcendental, de modo que o eu natural tem um mundo em que acredita; ao contrário, o eu transcendental vê o mundo em si e se enriquece. Em suma, o eu se reconhece e se identifica em diferentes níveis sucessivos:
– Um primeiro nível em que se parece com quem vive percepções diferentes.
– Um segundo nível no qual se destaca o eu que pratica intelecções categóricas ou essenciais. Isso é vivido idêntico ao eu que percebe com sensibilidade.
– Um terceiro nível, no qual ele percebe que é o mesmo eu que também reflete sobre sua atividade transcendental e natural.
O eu transcendental também é um indivíduo que constitui o mundo com uma responsabilidade por esse mundo e um compromisso com a humanidade.
Martin Heidegger (1889-1976)
Filósofo alemão que também trabalhou em arte, estética, teoria literária, cultura antropológica e psicanálise, entre outras disciplinas.
Martin Heidegger é considerado existencialista e não fenomenólogo. No entanto, isso pode ser enquadrado nessa concepção filosófica devido ao conceito de intencionalidade vinculado à consciência básica e antes de toda objetificação.
Para Heidegger, a intencionalidade era a relação ontológica do ser humano com o mundo e não uma característica da consciência como Husserl. É por essa razão que Heidegger investigou a aparência do ser no homem, que é o lugar onde o ser é revelado.
A partir daí, Heidegger considerou a subjetividade emoldurada na temporalidade, enquanto para Husserl transcendeu o temporal, uma vez que é formada por hábitos, crenças, desejos etc.
Por outro lado, Heidegger acreditava que Husserl era um intelectualista porque não se comprometia o suficiente com o planeta. Em vez disso, ele viu o homem envolvido no mundo e, portanto, comprometido com ele, com sua salvação e transformação.
Outra diferença entre os dois é que Husserl rejeitou as tradições porque as considerava prejudiciais para intuir experiências em pura essência. Heidegger, por outro lado, acentuou o retorno à historicidade das visões de mundo e tradições.
Jan Patocka (1907-1977)
Filósofo tcheco, seguidor de Husserl e Heidegger. Além de um fenomenólogo estrito, ele era um combatente da liberdade, opondo-se primeiro aos nazistas e depois aos comunistas.
Sua principal contribuição é a introdução do histórico na fenomenologia a partir da análise da noção de “responsabilidade”, com a qual os princípios da civilização são deixados de lado, assim como os totalitarismos.
Patocka retoma a ideia de Husserl sobre o “mundo da vida”. Segundo ele, o vazio do mundo moderno deriva da separação e da artificialidade: a amarração de idéias e coisas com experiência imediata e concreta foi quebrada.
É a partir dessa crise que Husserl se propõe a tornar o mundo relativo e subjetivo da vida uma nova ciência. Seu objetivo era descobrir a sensação de ser e a verdade do mundo.
Patocka reinterpreta e aprofunda o conceito de Husserl, argumentando que esse “mundo da vida” é acessado não pela reflexão, mas pela ação. Apenas chegue nesse mundo porque você age nele.
É por isso que a política não é feita intervindo em elementos de gestão, mas no momento em que homens e mulheres são encorajados a optar por um estilo filosófico baseado no questionamento e na compreensão do mundo. Dessa forma, o “mundo da vida” adota uma abordagem política.
Referências
- Embree, Lester e Moran, Dermot (eds) (2004). Fenomenologia: Conceitos Críticos em Filosofia. Routledge Londres
- Finlay, Linda (2012). Debatendo métodos fenomenológicos. In: Friesen N., Henriksson, C.; Saevi, T. (eds) Fenomenologia Hermeneutica em Educação, Practice of Research Method, vol. 4, SensePublishers, pp. 17-37. Roterdã Recuperado de link.springer.com.
- Guerrero Castañeda, Rául Fernando; Menezes, Tânia Maria de Oliva; Ojeda-Vargasa Ma. Guadalupe (2017). Características da entrevista fenomenológica na pesquisa em enfermagem. Revista Gaúcha de Enfermagem. 38 (2): e67458. Recuperado de scielo.br.
- Husserl, Edmund, (1970). A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental. Uma introdução à filosofia fenomenológica. Traduzido por Carr, David. Northwest University Press. Evanston Illinois Recuperado pdf s3.amazonaws.com.
- Husserl, Edmund (1998). Idéias pertencentes a uma fenomenologia pura e à filosofia fenomenológica. Segundo livro, Estudos na Constituição da Fenomenologia. Traduzido por Rojcewicz Richard e Schuwer André. Editores acadêmicos da Kluwer. Dordrecht
- Klein, Jacob (1940). Fenomenologia e história da ciência. Nas palestras e ensaios. Williamsom E.; Zuckerman, E (ed), St. John’s College Press, Maryland, pp. 65-84. Recuperado de unical.lit.
- Knaack, Phyllis (1984). Pesquisa Fenomenológica. Jornal ocidental da pesquisa de enfermagem. Vol. 6, Edição 7, p.107-114. Recuperado de journals.sagepub.com.
- Krombach, Hayo (1994). Husserl e a Fenomenologia da História. Ideas y Valores, nº 94 pp. 41 a 64. Bogotá, Colômbia. Tradução da História da Razão (1990). Ed. Philip Windsor, Leicester. University Press Recuperado de bdigital.unal.edu.co.
- Lohmar, Dieter (2007). O método fenomenológico da intuição das essências e sua concretização como variação eidética. Conde Soto, Francisco (trad). Em investigações fenomenológicas. Revista da Sociedade Espanhola de Fenomenologia. No.5., Pp. 9-47. Recuperado de uned.es.
- Ricoeur, Paul (2016). Prefácio de ensaios heréticos sobre filosofia da história por Jan Patocka. Edições de reunião. Espanha
- Sánchez-Migallón Granados, Sergio (2014). Fenomenologia Em Fernández Labastida, Francisco-Mercado, Juan Andrés (editores), Philosophica: enciclopédia filosófica online. Philosophica.info
- Westphal, Merold (1998). História e verdade na fenomenologia de Hegel. Terceira Edição Indiana University Press. Indiana