Saúde feminina: guia completo por fases da vida da mulher

Última actualización: dezembro 9, 2025
  • A saúde feminina exige cuidados contínuos: alimentação, exercício, sono, gestão do estresse e prevenção são pilares em qualquer idade.
  • Ao longo das fases da vida, exames preventivos como Papanicolau, mamografia, tipagem de HPV e avaliações hormonais reduzem mortalidade e complicações.
  • A combinação de medicina personalizada, tecnologia (femtech) e biomarcadores está revolucionando o diagnóstico e o tratamento das principais doenças que afetam as mulheres.
  • A saúde mental e a violência de gênero impactam fortemente o bem-estar feminino, exigindo detecção precoce, apoio psicológico e redes de proteção social e legal.

Saúde da mulher

Ao falar de saúde feminina, estamos tratando de muito mais do que menstruação, gravidez e menopausa: falamos de coração, ossos, mente, sexualidade, prevenção de câncer, violência, estilo de vida e tecnologia aplicada à medicina. A saúde da mulher é influenciada por fatores biológicos, hormonais, sociais, econômicos e culturais, que mudam de forma intensa ao longo da vida.

É por isso que cada fase da vida da mulher — infância, adolescência, idade fértil, gestação, maturidade e envelhecimento — exige cuidados específicos, exames em momentos-chave e atenção especial a sintomas que, muitas vezes, são naturalizados ou ignorados. Entender esse panorama ajuda a fazer escolhas melhores no dia a dia, aproveitar os avanços da medicina de precisão e saber quando procurar ajuda profissional sem esperar que o problema piore.

Por que a saúde da mulher exige um olhar específico?

A saúde da mulher ganhou destaque nas últimas décadas porque ficou evidente que as doenças podem se manifestar, evoluir e responder a tratamentos de forma diferente em mulheres e homens, inclusive nas condições não reprodutivas, como doenças cardiovasculares, autoimunes ou tromboembolismo venoso.

Apesar dos avanços, muitas mulheres ainda não fazem consultas e exames preventivos com a frequência recomendada. Estudos globais mostram que mais de um bilhão de mulheres passaram um ano inteiro sem procurar um profissional de saúde, e cerca de 1,5 bilhão não realizaram exames básicos para detectar hipertensão, diabetes, câncer ou infecções sexualmente transmissíveis.

Essa realidade está ligada a dificuldades financeiras, barreiras de acesso a serviços de saúde, desigualdade de gênero e a falsa ideia de que só é preciso ir ao médico quando algo está muito errado. Isso pesa diretamente na saúde pública, aumentando internações, custos de tratamento e perda de qualidade de vida.

Hoje, a medicina caminha para a personalização do cuidado feminino, usando biomarcadores, testes genéticos e dados clínicos para ajustar diagnósticos e terapias, especialmente em áreas como câncer de mama, doenças cardiovasculares, saúde óssea, fertilidade e transtornos mentais.

Saúde feminina ao longo da vida

Ao longo da vida, a mulher passa por transformações hormonais marcantes — menarca, ciclos menstruais, gestação, pós-parto, perimenopausa e menopausa — que influenciam não apenas a reprodução, mas também metabolismo, humor, sono, peso, ossos e até o risco de doenças crônicas.

Isso torna essencial um acompanhamento contínuo, muitas vezes com uma equipa multidisciplinar: pediatra e ginecologista na adolescência, gineco-obstetra na idade fértil, especialistas em menopausa, cardiologistas, endocrinologistas, psicólogos, nutricionistas e profissionais de saúde mental, dependendo da fase e das queixas.

Investir em saúde feminina não beneficia apenas cada mulher individualmente: melhora o bem-estar das famílias, reduz a mortalidade materna e infantil, e diminui a carga econômica associada a doenças crônicas, incapacidade e afastamentos do trabalho.

Infância e adolescência: bases da saúde feminina

Na infância, meninas e meninos têm causas de mortalidade semelhantes: prematuridade, asfixia ao nascer, infecções graves, pneumonia, diarreia e desnutrição. No entanto, desde cedo, desigualdades de acesso a alimentação adequada, vacinas e atendimento médico podem marcar a saúde da menina para o resto da vida.

Na adolescência (10 a 19 anos), entram em cena questões específicas de saúde feminina: início da menstruação (menarca), desenvolvimento das mamas, amadurecimento emocional, sexualidade, saúde mental e risco de violência. Transtornos depressivos, ansiedade, esquizofrenia em alguns casos e lesões por acidentes de trânsito ou afogamento aparecem entre as principais causas de adoecimento e morte em adolescentes.

No campo da infecção pelo HIV, as adolescentes e jovens mulheres em muitos países têm risco de infecção até duas vezes maior que os rapazes da mesma faixa etária, muitas vezes por práticas sexuais sem proteção, relações forçadas, desigualdade de poder nas relações e falta de acesso a informação e métodos contraceptivos.

Outro problema frequente é a anemia na adolescência, especialmente anemia por deficiência de ferro, que ultrapassa um terço das jovens de 15 a 19 anos em vários países. A anemia aumenta o risco de complicações na gravidez futura, prejudica o desempenho escolar, a capacidade física e a produtividade ao longo da vida adulta.

Anatomia e ciclo reprodutivo feminino

O aparelho reprodutor feminino está localizado na parte inferior do abdómen, protegido pela pelve óssea, e se divide em genitais externos e internos. Conhecer essa anatomia é importante para entender sinais, sintomas e para conversar com segurança com o ginecologista.

Os genitais externos são a vulva, composta por lábios maiores e menores, clitóris (pequeno órgão erétil muito sensível, fundamental para o prazer sexual), abertura do canal urinário e orifício vaginal, muitas vezes parcialmente coberto pelo hímen nas meninas que nunca tiveram penetração vaginal.

Os genitais internos incluem vagina, útero, trompas de Falópio e ovários. Os ovários armazenam as células sexuais femininas (óvulos) e produzem hormonas como estrogénios e progesterona, que regulam o ciclo menstrual e várias funções do organismo.

As trompas de Falópio ligam os ovários ao útero e são o local onde ocorre, na maior parte das vezes, a fecundação do óvulo pelo espermatozoide. Depois da fecundação, o óvulo fertilizado leva cerca de sete dias para chegar ao útero e se implantar no endométrio.

O útero é um órgão musculoso e oco, situado entre a bexiga e o reto, cuja principal função é abrigar e nutrir o feto durante a gestação. O interior do útero é revestido por uma mucosa chamada endométrio, que cresce sob ação dos estrogénios e amadurece com a progesterona, preparando-se todos os meses para uma possível gravidez.

Ciclo menstrual e primeira consulta ao ginecologista

O ciclo menstrual é o processo pelo qual, mês a mês, o corpo da mulher se prepara para engravidar. Quando não há fecundação, o endométrio se descama e ocorre a menstruação, que é a perda de sangue pela vagina de forma cíclica.

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Em geral, o ciclo dura em torno de 28 dias, sendo aceito como normal um intervalo entre 21 e 35 dias, com sangramento de 3 a 7 dias. Nos primeiros anos após a menarca (que costuma acontecer entre 11 e 15 anos), os ciclos podem ser irregulares e só se organizam totalmente após cerca de dois anos.

Ter uma menstruação regular costuma indicar que o eixo hormonal está funcionando de forma adequada e que existe potencial de fertilidade. Mas tanto ciclos muito curtos, quanto muito longos ou sangramentos excessivos merecem avaliação.

É uma boa prática a adolescente ou mulher passar a registar seus ciclos em agenda ou app: anotar a data de início, duração, intensidade do fluxo e sintomas associados ajuda a prever a próxima menstruação, identificar irregularidades e chegar à consulta médica com informação objetiva.

É recomendável marcar a primeira consulta ao ginecologista por volta dos 18 anos, ou antes, se existirem sintomas (dor intensa, sangramentos anormais, corrimentos, dúvidas sobre sexualidade) ou início da vida sexual. A partir daí, uma visita anual costuma ser indicada, salvo orientações específicas.

Síndrome pré-menstrual e saúde hormonal

Muitas mulheres percebem, nos dias que antecedem a menstruação, mudanças de humor, irritabilidade, sensibilidade emocional e desconfortos físicos. Isso faz parte do chamado síndrome pré-menstrual (SPM), bastante comum principalmente em mulheres jovens, mães recentes ou com histórico de depressão.

O SPM está associado a um desequilíbrio entre hormonas sexuais, neurotransmissores como serotonina e endorfinas e respostas inflamatórias do organismo. Os sintomas podem incluir tristeza, ansiedade, raiva, dificuldade de concentração, além de dor mamária, inchaço abdominal, cefaleia e retenção de líquidos.

Existem ainda quadros mais severos, como o transtorno disfórico pré-menstrual, em que a instabilidade emocional é intensa, podendo haver comportamento antissocial, grande irritabilidade e impacto profundo na vida familiar ou profissional.

Alguns hábitos simples ajudam a aliviar esses sintomas: atividade física regular, especialmente ao ar livre, dormir um pouco mais nessa fase, priorizar cereais integrais, castanhas, frutas, vegetais e evitar excesso de café, álcool, refrigerantes, alimentos muito salgados ou ricos em açúcar refinado.

Beber bastante água e consumir fibras ajuda no trânsito intestinal e na sensação de bem-estar, e um copo de leite morno ou outra bebida reconfortante pode atenuar desconfortos leves. Quando os sintomas são muito fortes, prolongados ou incapacitantes, vale procurar o ginecologista ou um profissional de saúde mental para avaliação e, se preciso, tratamento medicamentoso ou psicoterapêutico.

Saúde sexual, contracepção e métodos anticoncepcionais

A saúde sexual é parte central do bem-estar global da mulher. Envolve prazer, proteção contra ISTs, prevenção de gravidez não planejada e liberdade para tomar decisões informadas sobre o próprio corpo.

Os métodos anticonceptivos são variados e a escolha ideal depende da idade, histórico de saúde, número de parceiros, desejo reprodutivo, crenças pessoais e possíveis contraindicações médicas. É fundamental conversar com o ginecologista para entender as opções e os riscos e benefícios de cada uma.

Entre os métodos de barreira, o preservativo (camisinha) é o mais conhecido e amplamente recomendado, porque além de reduzir o risco de gravidez, protege contra grande parte das ISTs. Outros métodos de barreira incluem o diafragma e as esponjas vaginais, muitas vezes associados a espermicidas.

Os métodos hormonais (pílulas combinadas ou só de progesterona, anel vaginal, implante subdérmico, injeções) são muito eficazes quando usados corretamente, regulam o ciclo menstrual e podem ser indicados inclusive para tratar alterações hormonais, SOP, endometriose e acne. Porém, precisam ser avaliados caso a caso, considerando riscos cardiovasculares, tabagismo, enxaqueca e outros fatores.

Existem ainda os DIUs (dispositivos intrauterinos), hormonais ou de cobre, com duração de vários anos, altamente eficazes e reversíveis, bem como métodos definitivos, como ligadura de trompas e vasectomia, indicados para quem não deseja mais engravidar. Métodos naturais (tabelinha, método Billings, temperatura basal, método sintotérmico, coito interrompido e amenorreia da lactação) têm eficácia menor e exigem grande disciplina e conhecimento do próprio corpo.

Gravidez, parto e saúde materna

O período reprodutivo traz temas como fertilidade, pré-natal, parto e puerpério. Em um cenário de gestação cada vez mais tardia, aumentam os casos de mulheres que recorrem a tratamentos de fertilidade, como estimulação ovariana, inseminação intrauterina e fertilização in vitro.

O acompanhamento pré-natal regular é determinante para reduzir riscos como pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, parto prematuro e baixo peso ao nascer. Durante o pré-natal, avaliam-se condições pré-existentes, ajustam-se medicamentos, orienta-se sobre alimentação, vitaminas (especialmente ácido fólico e ferro), vacinas e estilo de vida.

A pré-eclâmpsia, que envolve hipertensão na gravidez e alterações em órgãos como fígado e rins, afeta cerca de 5 a 7% das gestações e é uma das principais causas de complicações maternas e fetais. Mesmo após o parto, essas mulheres têm risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares no futuro, o que reforça a importância do seguimento em longo prazo.

No pós-parto, além da recuperação física, amamentação e ajustes de rotina, a mulher pode enfrentar a depressão pós-parto, influenciada por grandes mudanças hormonais, falta de sono, sobrecarga de cuidados e, muitas vezes, falta de apoio social. Identificar sinais precoces e oferecer suporte psicológico reduz a duração e a gravidade do quadro.

Ao longo de toda a idade reprodutiva, o acesso a métodos contraceptivos modernos e à informação de qualidade é essencial para planejar gestações, reduzir abortos inseguros e evitar complicações de saúde materna, sobretudo em países de baixa e média renda, onde a mortalidade materna ainda é elevada.

Cânceres ginecológicos, câncer de mama e rastreios

Entre os cânceres que mais atingem as mulheres estão o câncer de mama, o câncer de colo do útero, de ovário, de endométrio, de vulva e de vagina. Em conjunto com câncer de pulmão e colorretal, formam um grupo responsável por grande parte das mortes femininas por neoplasias.

No caso do câncer de mama, estima-se que cerca de 1 em cada 12 mulheres terá a doença ao longo da vida. Por isso, recomenda-se realizar mamografia e, em alguns casos, ultrassonografia (sonomamografia) a partir dos 40 anos ou antes, se houver histórico familiar importante ou mutações genéticas de alto risco.

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O câncer de colo do útero está fortemente associado à infecção persistente por tipos de alto risco do vírus do papiloma humano (HPV). O rastreio se faz com o exame citológico (Papanicolau) e, cada vez mais, com testes específicos de HPV de alto risco, que oferecem maior sensibilidade. A vacina contra o HPV, idealmente aplicada na adolescência, é uma das maiores conquistas da prevenção oncológica, reduzindo drasticamente o risco de lesões precursoras e câncer cervical.

Além disso, exames como colposcopia e biópsias, quando indicados, permitem confirmar alterações detectadas no rastreio e tratar lesões pré-cancerosas com procedimentos como conização, LEEP ou cauterizações, evitando que evoluam para câncer invasivo.

Em mulheres com suspeita ou diagnóstico de câncer de mama, surgiram ferramentas como o teste molecular Prosigna (PAM50), que avalia a expressão de genes do tumor para classificar o subtipo intrínseco e estimar o risco de recorrência. Esse tipo de exame ajuda o médico a decidir se a paciente se beneficia de quimioterapia adjuvante ou se pode evitar tratamentos mais agressivos.

Doenças crónicas, obesidade e impacto em saúde pública

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre as mulheres no mundo, respondendo por mais de um terço dos óbitos femininos. Embora muitas vezes associadas aos homens, infartos e AVCs são extremamente relevantes na saúde feminina, especialmente após a menopausa, quando a proteção hormonal diminui.

A obesidade, que afeta cerca de 40% das mulheres adultas globalmente, aumenta o risco de diabetes tipo 2, hipertensão, cânceres específicos (como mama pós-menopausa e endométrio), osteoartrose e apneia do sono. Quando presente na gestação, a obesidade também está ligada a maior risco de complicações maternas e fetais.

A anemia é outro problema crónio amplamente disseminado entre as mulheres, especialmente em idade reprodutiva e durante a gravidez, em que pode ultrapassar 40% de prevalência. Ela está associada a maior risco de morte materna, fadiga intensa, redução da capacidade de trabalho e, em casos extremos, aumento da incidência de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares.

A osteoporose preocupa principalmente após a menopausa, quando a queda rápida de estrogénios leva a perda acelerada de massa óssea. O diagnóstico precoce com densitometria óssea permite adotar medidas como suplementação de cálcio e vitamina D, atividade física com impacto e, quando necessário, tratamento medicamentoso que reduz o risco de fraturas de coluna e quadril.

No conjunto, as doenças crónicas em mulheres geram impacto socioeconómico gigante, com custos anuais de bilhões em despesas médicas diretas e perdas de produtividade, ressaltando a necessidade de políticas de saúde voltadas à prevenção, ao rastreio organizado e à terapêutica eficaz.

Microbioma vaginal, ITS e saúde ginecológica avançada

A saúde ginecológica inclui mais do que prevenção de câncer: envolve um olhar atento para infecções, inflamações, equilíbrio da flora vaginal, hormonas e sexualidade. Exames de rotina como Papanicolau, colposcopia e testes de ISTs são a base desse cuidado.

Nos últimos anos, tecnologias como a metagenómica aplicada ao microbioma vaginal permitiram uma compreensão mais profunda das bactérias que habitam a vagina. Alterações nesse ecossistema se associam a vaginose bacteriana, candidíase recorrente, risco aumentado para ISTs, parto prematuro e desconfortos crónicos.

Exames modernos conseguem identificar, com mais precisão, quais microrganismos estão desequilibrados, facilitando tratamentos personalizados que vão além do uso indiscriminado de antibióticos ou antifúngicos, preservando as bactérias benéficas.

Outro ponto fundamental é o rastreamento de ISTs como clamídia, gonorreia, sífilis e HIV, que pode envolver colheitas locais, exames de sangue e testes moleculares. Muitas dessas infeções são assintomáticas, mas têm consequências sérias para a fertilidade e a saúde global se não forem tratadas.

A vacinação contra o HPV e a ampliação do acesso aos testes de tipagem de HPV de alto risco são estratégias centrais para reduzir o câncer cervical, enquanto a educação sexual e a distribuição de preservativos continuam indispensáveis para contenção de ISTs em geral.

Fertilidade, reserva ovariana e genética

A fertilidade feminina depende da idade, da reserva ovariana, de hormonas equilibradas, de trompas permeáveis, do útero saudável e da ausência de doenças como endometriose, miomas volumosos e síndrome dos ovários poliquísticos (SOP).

Para avaliar a fertilidade, médicos costumam solicitar exames hormonais como FSH, estradiol e especialmente a hormona antimülleriana (AMH), que oferece uma estimativa da reserva ovariana e auxilia no planeamento de tratamentos de reprodução assistida.

Exames de imagem, sobretudo a ecografia transvaginal, identificam alterações anatómicas (miomas, pólipos, cistos ovarianos, sinais de endometriose) e permitem contagem de folículos antrais, dado importante na avaliação da resposta à estimulação ovariana em técnicas como fertilização in vitro.

A genética tem papel crescente: mutações em genes como BRCA1 e BRCA2, por exemplo, não apenas aumentam o risco de câncer de mama e ovário, como podem se associar à falência ovariana prematura, influenciando o tempo ideal para engravidar ou para realizar preservação de fertilidade por congelamento de óvulos.

Testes genéticos também são úteis para analisar risco de doenças hereditárias que podem ser transmitidas aos filhos, permitindo um aconselhamento reprodutivo mais consciente e, em alguns casos, o uso de diagnóstico genético pré-implantacional em contextos de reprodução assistida.

Menopausa, envelhecimento e saúde óssea e cardiovascular

A perimenopausa e a menopausa marcam uma transição intensa, em que a produção de estrogénios cai de forma acentuada. Isso provoca sintomas como ondas de calor, suores noturnos, insónia, alterações de humor, ganho de peso, diminuição da libido, secura vaginal, dores articulares e aceleração da perda óssea.

Embora muitos desses sintomas sejam considerados “normais” da idade, a sua intensidade e duração variam muito. Em casos leves, ajustes no estilo de vida (atividade física, alimentação, técnicas de manejo de estresse) podem bastar; já em quadros moderados a graves, tratamentos como terapêutica hormonal, não hormonais e fitoterápicos podem ser avaliados por um especialista.

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Nessa fase, torna-se crucial olhar para doenças crónicas silenciosas, como hipertensão, dislipidemia, diabetes e aterosclerose, já que o risco de infarto e AVC sobe expressivamente após a menopausa. Consultas regulares, medição de pressão arterial, exames de sangue e, quando necessário, exames de imagem cardiovascular ajudam a detectar problemas precoces.

A saúde óssea também merece destaque: recomenda-se densitometria óssea em mulheres a partir de determinada idade ou antes, se houver fatores de risco (histórico familiar, uso crónico de corticoides, baixo IMC, fraturas prévias). Em geral, orienta-se consumo adequado de cálcio, vitamina D, exercícios com impacto e fortalecimento muscular para reduzir a perda óssea.

O envelhecimento saudável inclui ainda atenção a saúde visual, auditiva, saúde mental, função cognitiva e prevenção de quedas. Mulheres idosas muitas vezes têm mais dificuldades de acesso a dispositivos de ajuda (óculos, aparelho auditivo, fisioterapia), o que aumenta a dependência e o risco de incapacidade.

Saúde mental, estresse e violência de género

Ao longo da vida, as mulheres carregam uma carga desproporcional de transtornos mentais crónicos, incluindo depressão e ansiedade. Projeções globais indicam que a depressão tende a se tornar uma das maiores cargas de doença entre as mulheres até 2030.

Momentos de maior risco para problemas de saúde mental incluem menarca, gestação, pós-parto, perimenopausa e velhice. Fatores como pobreza, discriminação, sobrecarga de cuidados, violência doméstica e sexual potencializam ainda mais esse risco.

Durante a gravidez, a depressão e a ansiedade não tratadas estão associadas a parto prematuro, baixo peso ao nascer e aumento dos custos de saúde neonatal. Na meia-idade e na velhice, transtornos afetivos se relacionam com pior saúde cardiovascular, maior risco de infarto e pior recuperação após eventos cardíacos.

A violência contra a mulher é um problema de saúde pública devastador: cerca de um terço das mulheres no mundo relata ter sofrido violência física ou sexual pelo parceiro, e até 38% dos homicídios de mulheres são cometidos por companheiros. As vítimas apresentam mais depressão, uso abusivo de álcool, maior risco de ISTs, gestações não desejadas, abortos e lesões físicas graves.

Diante de qualquer situação de violência física, sexual ou psicológica — como agressões, ameaças, humilhações, chantagem e gritos — é essencial procurar ajuda em serviços de saúde, unidades básicas, hospitais ou centros de referência, acionando também redes de apoio social e os mecanismos legais de proteção disponíveis em cada país.

Estilo de vida, nutrição, atividade física e disruptores endócrinos

Os hábitos do dia a dia têm um impacto enorme na regulação hormonal e na saúde global da mulher. Uma alimentação equilibrada, sono reparador, movimento regular e redução do estresse são aliados em todas as fases.

De forma geral, médicos especializados recomendam alimentos ricos em zinco, ferro e magnésio (como carnes magras, leguminosas, sementes de abóbora, espinafre, alguns cereais integrais), além de gorduras boas presentes em peixes gordos e frutos secos. Nas fases do ciclo em que o organismo fica mais inflamado, como a fase lútea, crucíferas (brócolos, couve-flor, repolho) e alimentos ricos em fibra ajudam no metabolismo dos estrogénios.

Por outro lado, ultraprocessados, açúcares refinados e bebidas açucaradas favorecem picos de insulina, ganho de peso, aumento de cortisol e desregulação de outros eixos hormonais, piorando sintomas de SOP, TPM, perimenopausa e infertilidade.

O exercício físico regular equilibra a insulina, reduz cortisol, aumenta endorfinas e serotonina e melhora o humor, o sono e a composição corporal. Na fase menstrual podem ser mais adequados movimentos suaves, como yoga leve ou caminhada. Na fase folicular, com mais energia, treinos de força ou intervalados podem ser melhor aproveitados.

À medida que a menopausa se aproxima, o treino de força torna-se crucial para preservar massa muscular e densidade óssea, enquanto exercícios de equilíbrio e flexibilidade ajudam a prevenir quedas. O descanso, muitas vezes negligenciado, é tão essencial quanto o treino; é durante o sono que o corpo regula cortisol e produz melatonina, hormonas intimamente ligadas ao equilíbrio reprodutivo.

Tecnologia, femtech e futuro da medicina feminina

A inovação tecnológica transformou a forma como se cuida da saúde feminina, tornando a medicina mais preditiva, personalizada e conectada. Exames genéticos avançados, como painéis BRCA e testes como Prosigna, já fazem parte da rotina de centros especializados em oncologia mamária.

Ao mesmo tempo, melhorias em exames de imagem (mamografia digital, tomossíntese, ressonância magnética de mamas) aumentaram a sensibilidade do rastreio de câncer de mama, especialmente em mulheres com mamas densas, reduzindo diagnósticos tardios.

A chamada femtech — conjunto de apps, dispositivos e softwares dedicados à saúde da mulher — cresce rapidamente, com ferramentas para monitorar ciclo menstrual, fertilidade, gravidez, pós-parto e menopausa, além de plataformas de telemedicina que aproximam mulheres de especialistas sem necessidade de deslocamento frequente.

Mesmo assim, o volume de investimento em femtech ainda é pequeno quando comparado ao total de gastos em saúde feminina, indicando um mercado subexplorado e cheio de oportunidades. Empresas de biotecnologia também investem em soluções específicas para mulheres, sobretudo na prevenção e manejo de câncer, doenças cardíacas e distúrbios hormonais.

Instituições internacionais reforçaram a importância de incluir mulheres em estudos clínicos. Leis e diretrizes em países como os EUA e iniciativas da União Europeia estabelecem metas de participação feminina em pesquisas para garantir que novos medicamentos e tecnologias sejam testados adequadamente em ambos os sexos.

No centro de tudo o que foi apresentado está a ideia de que a saúde feminina precisa ser olhada de forma integrada, combinando prevenção, diagnóstico precoce, atenção à saúde mental, combate à violência, promoção de estilos de vida saudáveis e uso responsável da tecnologia; quando a mulher conhece melhor seu corpo, entende os sinais de alerta e tem acesso a serviços e exames de qualidade, ganha autonomia para tomar decisões e desfrutar de mais bem-estar em cada etapa da vida.

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