Benefícios do exercício nas distrofias musculares

Última actualización: dezembro 6, 2025
  • O exercício adaptado e supervisionado é seguro e benéfico em diversas distrofias musculares, desde que respeite limites individuais.
  • Programas combinando fortalecimento, treino aeróbico, respiratório e de equilíbrio ajudam a manter mobilidade e retardar complicações.
  • A fisioterapia, a atividade física adaptada e o enfoque biopsicossocial são centrais para preservar autonomia e qualidade de vida.
  • A escolha da atividade deve ser personalizada, com acompanhamento médico e atenção constante ao equilíbrio entre benefícios e riscos.

ejercicio y distrofias musculares

O exercício físico adaptado tem ganhado cada vez mais espaço no cuidado das distrofias musculares, deixando para trás a velha ideia de que o esforço só faria mal ao músculo doente. Hoje, graças a estudos clínicos sérios, à experiência de fisiatras, fisioterapeutas e profissionais de atividade física adaptada, sabemos que um programa bem planejado, supervisionado e ajustado à realidade de cada pessoa pode ser seguro, viável e realmente benéfico.

As distrofias musculares e outras doenças neuromusculares são condições genéticas ou adquiridas que provocam fraqueza progressiva, perda de função, fadiga e, muitas vezes, grande impacto na autonomia, na participação social e na qualidade de vida. Ao mesmo tempo, quem convive com essas doenças enfrenta barreiras físicas, emocionais e sociais: dificuldades para subir no ônibus, caminhar longas distâncias, aguardar em filas, acessar academias comuns ou explicar uma limitação que, em fases iniciais, pode ser pouco visível.

O que são distrofias musculares e como afetam o dia a dia

As distrofias musculares são doenças genéticas raras em que o tecido muscular se degenera de forma progressiva, sendo muitas vezes substituído por gordura ou tecido conjuntivo, o que leva à perda de força e de mobilidade. Em várias delas, os primeiros sinais são discretos: tropeços frequentes, dificuldade para subir escadas, levantar do chão ou correr como outras crianças. Em adultos, pode aparecer como fadiga constante, sensação de peso nas pernas ou falta de fôlego em esforços simples.

Além da dificuldade para caminhar, algumas variantes de distrofia e outras miopatias podem comprometer visão, fala, deglutição e respiração, tornando o impacto muito mais amplo do que apenas “fraqueza de perna”. Isso significa que comer, comunicar-se, trabalhar, estudar ou cuidar de filhos pode exigir estratégias especiais, adaptações e apoio profissional contínuo.

Do ponto de vista da medicina de reabilitação, já não se enxerga a pessoa apenas como “um músculo doente”, mas dentro de um modelo biopsicossocial, que considera corpo, mente e contexto social. Idade, tipo de trabalho, responsabilidades familiares, ambiente físico, suporte social e expectativas pessoais modificam profundamente como a mesma distrofia se manifesta na prática.

Muitas pessoas com distrofia não são imediatamente reconhecidas como “pessoas com deficiência”, justamente porque os sintomas iniciais podem ser sutis e pouco visíveis. Ainda assim, elas já enfrentam limitações reais, como dificuldade para subir no transporte público, manter o ritmo em atividades de lazer ou suportar uma jornada de trabalho em pé.

Deficiência, tipos e graus: por que isso importa para o exercício

O conceito de deficiência engloba desde alterações estruturais ou funcionais do corpo até limitações na execução de tarefas e restrições na participação em situações da vida diária. A Organização Mundial da Saúde descreve deficiências (problemas de estrutura ou função), limitações de atividade (dificuldades em realizar ações) e restrições de participação (problemas para se engajar na vida social, profissional ou familiar).

Os graus de deficiência — leve, moderado e severo — ajudam a planejar de forma realista o tipo e a intensidade do exercício. Na deficiência leve, a pessoa mantém boa independência, embora com algumas dificuldades em atividades do dia a dia. Na moderada, precisa de ajuda para várias tarefas e enfrenta mais barreiras ambientais. Na deficiência severa, a autonomia é muito reduzida, e o apoio de terceiros passa a ser indispensável.

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Existem diversos tipos de deficiência: física ou motora, visual, auditiva, intelectual e psíquica, entre outras; nas distrofias musculares, a mais evidente costuma ser a deficiência física ou motora. As dificuldades surgem da fraqueza, de contraturas, deformidades, amputações ou malformações, impactando postura, marcha, coordenação e equilíbrio.

As deficiências podem ser congênitas ou hereditárias, transmitidas por alterações genéticas que definem um “genótipo”, o qual se manifesta externamente como “fenótipo”. Isso explica por que duas pessoas com a mesma mutação podem ter manifestações diferentes, em intensidade e velocidade de progressão.

Atividade física, exercício e biomecânica: bases para intervir com segurança

A atividade física é qualquer movimento corporal produzido pela musculatura esquelética que aumente o gasto energético, desde caminhar até praticar esportes ou fazer tarefas domésticas mais ativas. A OMS inclui trabalho, lazer, deslocamentos, exercícios estruturados e esportes dentro desse grande guarda-chuva.

O exercício físico, dentro desse conceito amplo, é geralmente planejado, estruturado e repetitivo, com o objetivo de melhorar ou manter aptidão física, força, resistência, mobilidade e saúde geral. Em distrofias musculares, não interessa apenas “gastar energia”, mas fazer isso de forma terapêutica, calculada, respeitando limites e particularidades de cada doença.

A biomecânica entra como ferramenta fundamental, pois analisa de forma quantitativa e formal a relação entre estrutura e função dos tecidos vivos, incluindo ossos, músculos e articulações. Ela ajuda a entender como as forças internas (contrações musculares) e externas (gravidade, impacto, resistência) atuam sobre as estruturas enfraquecidas, permitindo ajustar alavancas, amplitudes de movimento, velocidade de execução e suportes necessários.

Na prática, uma boa avaliação biomecânica orienta correção postural, escolha de exercícios em cadeias cinéticas seguras, uso de órteses, adaptações no ambiente e seleção de atividades aquáticas ou terrestres mais adequadas a cada fase da doença. Isso reduz o risco de sobrecarga e aumenta a eficiência do treino.

Atividade física adaptada: ajustando o movimento à pessoa, não o contrário

A atividade física adaptada é um campo multidisciplinar focado em identificar e solucionar diferenças individuais na prática de movimento, esporte e exercício. Ela combina educação física, reabilitação, medicina, nutrição, dança, recreação e outras áreas para criar oportunidades reais de participação.

A proposta central é simples, mas poderosa: não obrigar a pessoa com distrofia a se encaixar em um modelo padrão de exercício, e sim adaptar o exercício à sua condição, seus interesses e seu contexto. Isso inclui modificar regras, equipamentos, intensidade, tempo de pausa, ambiente e até objetivos do programa.

Essa abordagem defende uma atitude de aceitação das diferenças individuais, promove acesso a estilos de vida ativos e esportes para todos, e incentiva a cooperação entre famílias, profissionais de saúde, educadores físicos e instituições. Na prática, significa que uma aula de hidroginástica, por exemplo, pode ser redesenhada para ser segura e inclusiva para alguém com distrofia muscular de Duchenne.

Para quem tem distrofia muscular, a atividade física adaptada ajuda a prevenir contraturas, manter amplitude de movimento, controlar peso corporal, melhorar circulação, reduzir risco de complicações respiratórias e cardiovasculares e, principalmente, preservar a independência o máximo possível. Sessões em piscina com água morna e exercícios de alongamento assistido são exemplos clássicos de intervenção segura.

Distrofia Muscular de Duchenne: características e desafios

A distrofia muscular de Duchenne (DMD) é a forma mais comum e mais grave de distrofia muscular ligada ao cromossomo X, afetando sobretudo meninos. Ela decorre de mutações no gene da distrofina, proteína essencial para manter a integridade da membrana da fibra muscular.

A distrofina integra um complexo de proteínas conhecido como complexo distrofina-glicoproteína (DGC), que conecta o citoesqueleto da fibra muscular à matriz extracelular, estabilizando a célula durante o esforço. Quando essa proteína falta ou é defeituosa, o músculo sofre microlesões repetidas, inflamação crônica e, com o tempo, substituição por tecido adiposo e fibroso.

Os primeiros sinais da DMD costumam surgir por volta dos 4 anos: dificuldade progressiva para subir e descer escadas, levantar-se do chão (manobra de Gowers), correr, pular e manter o mesmo ritmo dos colegas. O caminhar torna-se “pesado”, com balanço de tronco, base alargada e quedas frequentes.

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Cada caso, porém, evolui em um ritmo próprio de perda de força e mobilidade, influenciado por genética, tratamentos disponíveis, qualidade da reabilitação, uso de auxiliares de marcha, adaptações ambientais e suporte familiar. Em fases mais avançadas, podem surgir escolioses, incapacidade de marcha, necessidade de cadeira de rodas, comprometimento respiratório e cardíaco.

Ainda não existe terapia definitiva amplamente disponível, embora ensaios clínicos com terapia gênica, omissão de éxon, terapias celulares e modulação de proteínas relacionadas (como a utrofina) tragam perspectivas promissoras. Há estudos, por exemplo, com cilostazol, um vasodilatador periférico que pode melhorar temporariamente a fraqueza muscular em modelos de DMD, ao favorecer a irrigação durante o exercício.

Exercício terapêutico na distrofia de Duchenne e em outras distrofias

Durante muitos anos, prevaleceu o medo de que qualquer exercício pudesse acelerar a destruição muscular em distrofias, e por isso muitos profissionais aconselhavam repouso excessivo; contudo é importante conhecer as consequências negativas do excesso de exercício. Hoje, pesquisas clínicas bem conduzidas mudaram esse cenário.

Ensaios clínicos randomizados com adultos portadores de distrofias musculares mostraram que um programa combinado de exercício supervisionado por 12 semanas, incluindo resistência aeróbica, fortalecimento, treino respiratório e de equilíbrio, pode ser seguro e trazer ganhos significativos. No grupo que treinou, observou-se melhora da mobilidade, principalmente em quem tinha maior fraqueza inicial, incremento da força do quadríceps e estabilização da fadiga, enquanto o grupo controle piorou nesse aspecto.

Os programas terapêuticos costumam incluir exercícios de baixo impacto, séries curtas para evitar fadiga excessiva, monitorização da resposta ao esforço e ajustes constantes conforme a evolução da doença. Em Duchenne, favorecem-se modalidades como bicicleta ergométrica leve, caminhadas curtas em superfícies planas, alongamentos, exercícios em piscina e fortalecimento submáximo com elásticos leves.

Em miopatias metabólicas (como Pompe ou McArdle), o plano de exercício precisa considerar muito bem a disponibilidade de energia e o risco de fadiga súbita, evitando esforços prolongados e intensos sem pausas. Já nas miopatias inflamatórias (polimiosite, dermatomiosite), o exercício ajuda a manter força e mobilidade, mas deve ser ajustado ao grau de inflamação e dor, em diálogo constante com o médico.

Fisioterapia, fisiatria e terapia física nas distrofias

A fisioterapia e a medicina física e reabilitação (fisiatria) são pilares fundamentais no manejo das distrofias musculares, escapando da lógica de “cura” e focando em prevenir complicações, reduzir sintomas e preservar função. O fisiatra é o médico especialista na avaliação global, prescrição de exercícios, órteses, ajudas técnicas e coordenação da equipe.

O tratamento fisioterapêutico é dirigido principalmente às complicações secundárias: perda de força, contraturas, deformidades posturais, dificuldades de marcha, fraturas por queda, infecções pulmonares e descompensações cardíacas. Os objetivos variam conforme a fase da doença, mas sempre buscam prolongar a autonomia e a qualidade de vida.

Na Duchenne, recomenda-se evitar permanência prolongada na cama e estimular uma vida o mais ativa possível, dentro dos limites de segurança, controlando o peso e mantendo rotinas de exercícios terapêuticos. A educação da família sobre alongamentos diários, posicionamento e transferências seguras é peça-chave.

Entre as ações fisioterapêuticas mais frequentes estão: controle postural, manutenção da força muscular residual, prevenção de contraturas, preservação de flexibilidade por meio de mobilizações passivas e exercícios de alongamento, correção de atitudes posturais inadequadas e incentivo à maior independência possível nas atividades de vida diária. A hidroterapia entra como importante aliada, já que reduz o impacto da gravidade e permite movimentos mais amplos com menos esforço.

Exemplos práticos incluem cinesiterapia passiva e ativa-assistida de quadril, joelho e tornozelo; exercícios ativos e resistidos leves para bíceps, tríceps e deltoides (ver exercícios para reduzir os braços caídos); alongamentos específicos de isquiotibiais, tríceps sural, psoas ilíaco e adutores; e exercícios em quadrupedia e posturas variadas para treinar estabilidade. Vídeos educativos e materiais on-line podem ajudar famílias a reproduzir, com segurança, parte dessa rotina em casa, sempre com supervisão profissional periódica.

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Benefícios físicos, respiratórios, psicológicos e sociais do exercício

A atividade física regular, mesmo adaptada a limitações importantes, traz benefícios amplos para o corpo: melhora a força residual, a resistência cardiovascular, a capacidade respiratória, a saúde óssea e o controle do peso. Em distrofias, isso significa retardar o declínio funcional, reduzir o surgimento de complicações — muitas das doenças evitadas pela prática de exercício físico — e ampliar o tempo de independência.

O treino respiratório, seja com exercícios específicos em solo ou em ambiente aquático, pode ajudar a manter a capacidade ventilatória por mais tempo, colaborando com a prevenção de infecções pulmonares e diminuindo o risco de insuficiência respiratória precoce. Em doenças onde o coração também é afetado, o condicionamento aeróbico leve e bem monitorado pode contribuir para um melhor desempenho cardiovascular.

No campo psicológico, o exercício estimula a liberação de hormônios como as endorfinas, associados à sensação de bem-estar, redução do estresse, melhora do humor e da qualidade do sono. Para pessoas que lidam diariamente com limitações progressivas, dor, fadiga e incertezas sobre o futuro, esse efeito é especialmente valioso.

Do ponto de vista social, participar de grupos de exercício terapêutico, hidroginástica adaptada ou atividades ao ar livre favorece a interação com outras pessoas, combatendo o isolamento e o estigma que muitas vezes acompanham a deficiência. Isso cria redes de apoio, favorece a troca de experiências e fortalece o senso de pertencimento.

Um ensaio clínico com programa de exercício terapêutico em grupo para pessoas com distrofias musculares mostrou, além dos ganhos objetivos de função, um impacto muito positivo na percepção subjetiva de bem-estar, na autoconfiança e na motivação para seguir ativo. A dinâmica em grupo, o apoio dos profissionais e o compartilhamento de objetivos tornam o processo mais leve e sustentável.

Como escolher, adaptar e conversar sobre a atividade física

A escolha da atividade precisa levar em conta o que a pessoa gosta, o que é viável no seu ambiente e o que é clinicamente seguro. Caminhadas curtas, natação leve, exercícios em piscina aquecida, pilates adaptado, yoga suave, tai chi, treinamento com elásticos e até esportes adaptados podem entrar no cardápio, sempre com ajustes.

Antes de começar qualquer programa, é indispensável conversar com o médico e com a equipe de reabilitação, que irão avaliar o estado de saúde global, função respiratória e cardíaca, uso de medicamentos (como corticoides) e histórico de quedas, fraturas ou arritmias. Com base nisso, definem-se intensidade, frequência, duração das sessões e sinais de alerta.

Durante o treino, é fundamental respeitar os limites do corpo: cansaço é esperado, dor intensa não; fadiga que melhora com repouso curto é aceitável, piora progressiva de sintomas não é. Quando algo foge do esperado, a recomendação é pausar e buscar orientação do profissional de saúde.

É sempre necessário ponderar benefícios e riscos do exercício diante da condição clínica específica, lembrando que a ausência de atividade também traz riscos, como atrofia por desuso, perda acelerada de mobilidade, piora da circulação e do humor. A meta não é competir com pessoas sem deficiência, mas construir uma rotina de movimento sustentável e segura.

O conjunto de evidências científicas e da prática clínica aponta que o exercício físico adequado, supervisionado e individualizado é um aliado de peso na abordagem das distrofias musculares e demais doenças neuromusculares, favorecendo a manutenção da mobilidade, da capacidade respiratória, do bem-estar psicológico e da participação ativa na vida cotidiana.

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